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Medos, falhas e o que entendemos errado sobre feedback

Medos, falhas e o que entendemos errado sobre feedback

 

“Palavras verdadeiras não são agradáveis; palavras agradáveis não são verdadeiras.”
Tao Te Ching, Capítulo 81

Feedback. A palavra já vem carregada de tensão. Em muitas empresas, comentar sobre desempenho cheio de boas intenções acaba desencadeando defensiva, desmotivação ou silêncio. E isso não é só sentimento: estudos mostram que, em organizações com cultura fraca de feedback, há impactos claros em turnover, engajamento e produtividade.

Aprender a dar e receber feedback eficaz exige mais do que coragem, exige clareza nos tipos de retorno que usamos, confiança no mensageiro, cadência constante (não apenas conversas “oficiais”), e um equilíbrio entre reconhecimento e correção. Esse é o primeiro passo para mudar o modo como trabalhamos juntos, não como uma tarefa, mas como cultura viva.

Feedback não é só uma coisa: são quatro

São diferentes formas de olhar e aprender. Quando misturamos tudo, ele perde força. Quando usamos certo, vira um guia poderoso para crescer.

Feedback Positivo: reconhecimento e encorajamento, combustível essencial para confiança e motivação.

Feedback Negativo-Corretivo: específico, acionável, como um GPS dizendo “recalcular”.

Feedback Negativo-Desenvolvimental: voltado para o futuro, esticando alguém além dos limites atuais.

Feedback Negativo-Avaliativo: vago, muitas vezes julgador, é aquele com “dentes”, o que mais causa efeito contrário.

O feedback é paradoxal. Em média, ajuda (Cohen’s d ≈ 0.41). Mas em 1 de cada 3 situações, derruba. Não é bug: é o jeito humano de reagir à incerteza, à hierarquia e ao que sentimos como ameaça.

Então, o que está faltando?

As cinco dimensões que esquecemos de medir

O feedback não existe apenas em palavras, mas em espaços: psicológico, relacional, temporal. Seu impacto depende de cinco dimensões frequentemente ignoradas.

1. Pull vs. Push: quem inicia a dança?
Quando o feedback é convidado (Pull), engaja curiosidade e prontidão.

Quando é imposto (Push), aciona o ego, o medo e os fantasmas de humilhações passadas.

Estudos de Ashford & Cummings e Gong et al. mostram que quem busca feedback se adapta mais rápido, aprende mais e permanece mais engajado.

2. Reconhecimento é combustível, não gentileza
A razão de Losada (3 a 5 interações positivas para cada negativa) não vale apenas para equipes, é física dos sistemas emocionais. Feedback positivo é energia. Feedback negativo é direção. Sem equilíbrio, um consome o outro.

Pense como um ecossistema: sol demais, as plantas queimam; sol de menos, elas morrem de fome.

3. Se o meio é a mensagem, o mensageiro é o feedback: 
O feedback é tão poderoso quanto a confiança em quem o dá. Se a fonte carece de credibilidade, percepção de justiça ou boa vontade, a mensagem se deteriora em ruído ou, pior, ameaça. Lembre-se: confiança = receptividade!

Kluger & DeNisi (1996) mostraram que a eficácia do feedback depende mais de quem dá do que do que é dito.

4. Mais importante que a coreografia perfeita é o ritmo constante
Os humanos aprendem pela frequência, não pela intensidade. Sinais pequenos e constantes importam mais do que avaliações anuais ensurdecedoras. Toques semanais constroem hábitos. Avaliações anuais constroem ressentimento.

5. Elogiar pode ser manipulação. Escolha o caminho mais difícil
“Você é incrível” é agradável, mas não ensina. “Seu insight ajudou a equipe a desbloquear uma nova abordagem” é específico, fortalecedor e construtor de resiliência.

A neurociência mostra que elogios baseados em identidade geram fragilidade, enquanto elogios baseados em impacto cultivam durabilidade.

O novo ciclo do feedback: um mapa para transformação

Para redesenhar o feedback como combustível, precisamos de cinco ações:

Passo-a-Passo Por que funciona O que fazer
Pergunte primeiro Aumenta abertura e aprendizado Incentive a busca de feedback como norma
Equilibre a razão Evita defensividade Mantenha uma razão de 3:1 a 5:1 positivo:negativo
Avalie a fonte Constrói confiança e credibilidade Treine quem dá feedback em justiça e empatia
Mantenha ritmo Transforma mudança em hábito Micro-feedback semanal > avaliações anuais
Elogie o impacto Cultiva resiliência Foque nos resultados do comportamento, não na identidade

 

O que entendemos errado sobre feedback

Tratamos o feedback como uma flecha, algo lançado contra as pessoas.

Mas ele é melhor entendido como um espelho, um pouco de Freud, Jung ou Klein, refletido, convidado e integrado.

Ou melhor ainda, como um diapasão, uma vibração que oferecemos uns aos outros para nos ajudar a ressoar com mais clareza em propósito, crescimento e ritmo coletivo.

Feedback não é ajuste pontual. É frequência

Se você ainda está tentando “consertar” pessoas com feedback, não está ouvindo o sinal.

O feedback, como a música, funciona melhor quando ressoa. E pra ressoar bem, pede:

  • Confiança
  • Ritmo
  • Curiosidade
  • E disposição para dançar, não ditar

“As maiores transformações não começam com perfeição, começam com movimento.”
Segunda Lei da Adaptabilidade

Que o feedback seja esse primeiro movimento, em direção não apenas a um trabalho melhor, mas a melhores formas de trabalhar juntos.

 

Benito Berretta
Benito Berretta

Managing Director of Hyper Island Americas, Speaker & Facilitator

Medos, falhas e o que entendemos errado sobre feedback

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